Pensei bastante sobre a vida. Um assunto que, apesar de na boca do povo ("vida de cão"´"é a vida" "como vai a vida"), ninguém se digna realmente a pensar. E o tempo é sempre simultaneamente amigo e inimigo. Atenua as más lembranças, aquelas que achamos mesmo que desapareceram, mas que ainda se revelam em sonhos e noites mal passadas.
De facto aprender e apreender são as acções mais genuínas que podemos executar. Aprender a viver connosco, e com o que a tal vida nos vai atirando para as costas, é uma formação que não temos. Quando aprendemos que não somos as mesmas pessoas que éramos, que a felicidade não é um estado constante, mas continuado, e que, enquanto uns ficam à espera de momentos e outros ficam à espera de oportunidades, nós deambulamos por espaços que nos pareçam familiares, que se nos avizinhem confortáveis ou minimamente acolhedores, e somos felizes aos poucos nesses espaços.
E as pessoas, também, pontos que entram e saem do nosso quadrado porque querem, outras porque as afastamos, outras ainda porque não conseguem enxergar quando o nosso quadrado é escuro. E tem aquelas que estão sempre por perto, para quem o nosso quadrado é a casa delas, e, mesmo sem luz, sabem onde estão as directrizes que nos definem.
A vida dá lições... e dá mesmo. Há comodistas que acham que a vida os fode, há egoístas que acham que a vida não lhes pertence, há pessimistas que sacam dela o pior, há optimistas que a levam pouco a sério e há os que não se conformam, os que não têm medo de tentar.
Há bofetadas, é verdade, mas as lições que mais nos marcam são as de bondade, são as retribuições, as dádivas que ela oferece mesmo sem merecermos, mas que iremos merecer porque ela nos ensinou com abraços e presenças.
Se aprendi alguma coisa da vida foi que não foi ela a ensinar-me.