21.1.10

abreviatura de algo gigante

E no dia seguinte já não chovia. Os vultos motivados pela cortesia haviam dispersado e restávamos apenas nós, os que realmente conheciam de cor o teu humor negro. No dia anterior achei que tinhas medo de ficar sozinha, esmagada por aquela colina geométrica de mármore rugosa, ontem tão ameaçadora, hoje mais aceite. Ausentei-me por momentos, também já não estavas ali e não, de que adiantava. As gavetas transformaram-se em janelas e pensei o quanto arquivada ficou a tua história. Devia existir uma biblioteca de almas que reunisse todas as estórias do mundo, principalmente a tua, tão kármica. Mantenho-me durante uns minutos mais neste espaço de segurança e sinto aquela pele infantil de tão tépida ingenuidade que permaneceu até ao final. O sarcasmo fugitivo o olhar assustado tudo agora tão sereno mas estampado a encarnado nas minhas memórias. Um derradeiro beijo na testa para afastar a dor e colocar em câmara lenta o dia em que entras na minha vida, qual mãe natal disfuncional, para trazer a alegria de criança à minha existência. No próximo dia encontramo-nos, espera-me no paraíso que até lá vou pintar os lábios de vermelho para te trazer de volta.

"escrevi este livro na felicidade louca de escrevê lo"