27.4.07

PoeSia orGasmO

de silabas de letras de fonemas
se faz a escrita. não se faz um verso.
tem de correr no corpo dos poemas
o sangue das artérias do universo.


cada palavra há-de ser um grito.
um murmurio um gemido uma erecção
que transporte do humano ao infinito
a dor o fogo a flor a vibração.


a poesia é de mel ou de cicuta
?
quando um poeta se interroga e escuta
ouve ternura luta espanto ou espasmo?


ouve como quiser seja o que for
fazer poemas é escrever amor
a poesia o que tem de ser é orgasmo.


Ary dos Santos
fOtogRafiA

just

livro de horas


aqui diante de mim, eu, pecador, me confesso de ser assim como sou. me confesso o bom e o mau que vão ao leme da nau nesta deriva em que vou. me confesso possesso das virtudes teologais, que são três, e dos pecados mortais, que são sete, quando a terra não repete que são mais. me confesso o dono das minhas horas, o dos facadas cegas e raivosas, e o das ternuras lúcidas e mansas. e de ser de qualquer modo andanças do mesmo todo. me confesso de ser charco e luar de charco, à mistura. de ser a corda do arco que atira setas acima e abaixo da minha altura. me confesso de ser tudo que possa nascer em mim. de ter raízes no chão desta minha condição. me confesso de abel e de caim. me confesso de ser homem. de ser um anjo caído do tal céu que deus governa; de ser um monstro saído do buraco mais fundo da caverna. me confesso de ser eu. eu, tal e qual como vim para dizer que sou eu aqui, diante de mim!
Miguel Torga



"escrevi este livro na felicidade louca de escrevê lo"