(por Mariana d'Orey)
" As pessoas tratam de pôr uma pausa ou um stop nestas conversas. Incomoda-as” dizias tu numa das nossas trocas de palavras. Acesas, irreverentes e profundamente tenras. Não imaturas, mas tenras, frescas, prestes a desbotar. A Inês das mil e uma verdades e a Mariana dos mil e um segredos, o filho das mil e uma alegrias, o livro das mil e promessas.Nessa tarde fria de Novembro em que os nossos olhares se encontraram no suor das nossas conversas. Sim, porque as nossas conversas suam. Soam porque ganham vida e ritmo próprio. Bem, dizia eu que nesse fim de tarde amarelo em Portugal e vermelho em Roma (sempre gostei de ver o amarelo e o vermelho juntos) estavas especialmente amedrontada. Estavas amedrontada porque estás longe e tens medo que isso te afaste da tua mais nobre missão: escrever. Por isso, e só por isso, me lançaste ideias sem sustento (pelo menos por enquanto) de escrever um livros. Sobre quê? Não sei. E tu também não. Só sabes que incessantemente queres desenhar letras e sujar as tuas mãos de papel e carvão. Só mais tarde percebeste porque te disse que na vida temos de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro, por esta ordem. E aí o sangue subiu-nos ao coração e, de uma forma quase simultânea, desafiamo-nos para mais uma batalha de pensamentos. Batalha não porque somos mulheres de paz, diria melhor um flirt de pensamentos. Intenso, provocador e incomodativa para todos. Menos para nós. Defendi a ideia de que um livro devia vir depois de um filho. Nem sei se é verdade, mas disse – to na mesma. Porque era isso que precisavas de ouvir. Tu, do teu recanto, afirmavas que não, que um filho era a derradeira criação. Nem sabias bem se acreditavas nisso. Mas disseste – o na mesma. Porque isso justificaria as tuas novas ficções para acalmares a alma. Por fim, eternas amantes do entendimento, encontramos um caminho comum. Se era o livro ou o filho a derradeira criação não sabíamos, a que cumpria era ainda a primeira: plantar uma árvore. Colocar a semente, regá-la, cuidá-la e dar estrutura a cada uma das ramificações. Quando voltares quero que plantes a tua árvore ao lado da minha árvore. Ela ainda está pequenina, mas concerteza será capaz de abrigar a tua semente do sopro do vento e dos risos da chuva. Um dia mais tarde não duvido que a tua jovem árvore relembra a minha, nessa altura já carregada das rugas do tempo, o processo de fotossíntese e as malandragens do sol. Se na vida temos de fazer três coisas – plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro – então no nosso percurso temos também de nos cruzar com três pessoas – o Papa, o Paulo Moura e a Inês Andrade.
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