aprender a rezar na era da técnica
Lembro me dum filme. 27ª edição do Fantasporto, vale a pena referir.
Era estranho e inquietantemente ordenado.
Um homem é levado para uma vida perfeita. Uma mulher cumpridora, submissa como se quer. Um emprego organizado, remuneração suficiente, sem excessos que perturbem o funcionamento linear.
Um dia esse indivíduo sem nome (far lhe ia jus um número, perdão, um mapa de bits), espera pelo metro.
Sabe se com precisão o tempo que o transporte demora a chegar.
Um casal beija se nos bancos brancos.
O som do beijo é mecãnico. Terrivelmente compassado.
O espectador já é o homem. O controlo dá vontade de morrer.
E ele suicida se. Um salto técnico. Pouco comovente, com geometria: momento exacto da chegada do metro.
E o filme torna se deliciosamente estupido e hilariante.
O homem não morre. Nao consegue. É probido morrer.
Ele deseja, persegue e implora a morte.
E o espectador, a dada altura, torce pela morte dele, como uma claque num jogo. Sugere tipos de mortes. Desanima quando o homem sem nome se levanta.
Naquele momento antes do fim, é encaminhado para a sua vida tecnicista. Para o seu pensamento esquadrizado.
No fim descobre musica. A musica era proibida. Veículos de emoção eram proibidos.
Mas ele descobre, a música e um cheiro a infância. Um qualquer, nao importa, todos temos um.
O homem sem nome teve de calcular a fuga.
Era uma vez um homem sem nome.
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"escrevi este livro na felicidade louca de escrevê lo"
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