29.11.08

tributo póstumo à minha dependencia emocional
9
terapia inata para futuras entregas



28.11.08



mary 's


got the same


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hands as


marilyn monroe


amor explicito


Nao sei se é o calor da tua casa ou das tuas mãos que me fazem querer ficar quando me pedes para ficar. O conforto é demasiado tentador e as palavras sao tao o que quero ouvir..o que preciso de ouvir. Fico e durmo. Em paz, porque respiro melhor com o textura dos teus lençois. Ou será das tuas maos? Ou das tuas palavras.

Rendição. Quero manter me onde sempre estive. Como sempre fui. Distante e à margem. Quero que queiras sem pensares que quero..mas quereres à mesma. Não consigo. Só quero adormecer. Livre de tudo, de mim até. Pontas dos teus dedos nos meus olhos quentes. Brincas distraido com o desenho dos meus lábios a amar devagarinho queixas e mimos. E eu adormeço. So porque quero. Estás aqui.

Não estás, e desafiamo nos de novo.

Perdoamos os confrontos externos e confitos interiores. Cansamos das horas pesadas . E devolvemo nos de novo ao sono entre promessas pornográficas. Ja nao sei onde me deixei, aquela que sempre quis ser, que sempre quis que amassem.

Amas. So porque sou. e ja cortejas os meus ombros como antes das horas dificeis. Alivias a minha ansia. Cobres me de ti e das me amor sujo, tentadoramente tenso e violento.

Agora está tudo tao esmagadoramente calmo, sem os raros surtos de dádiva incondicional. Sem os despojos infantis das horas vazias. Sem as conversas de casa de banho e os segredos de alcova.

A minha alma está tao fria como a tua cama.

Nao adormeço

Branca de Neve e os 7 anões





Ao contrário do conto, já contava que estivessem sete no quarto. São anões, são pequenos. Não os ouve porque falam baixo, nem os vê porque não estão no seu campo de visão mais preguiçoso. E são pequenos outra vez, não chegam às coisas e já nao apetece ajudá-los, pelo menos não mais. Mas o local é bonito, é exterior a ela, alheio à casa. Não percebe se ele é amigável ou hostil. Se é sujo ou só desarrumado. Se barulhento ou apenas está vivo.


Isto é Nápoles.


Golfo amontoado de casa, lixo e cães de rua.


Paisagem cronológica, com camadas de adaptação. Liderada pelo Vesúvio, enfeitada por Capri. È prosaica, mas pouco humilde, pavoneia se na sua grelha de vielas demasiado estreitas, com demasiados estendais e janelas em demasia também. Esquinas de mafiosos. Motas com mulheres mal maquilhadas e brilhantes. Muita gente, muito diferente, muitas histórias. Cliché, mas bem suado nesta cidade. Carros atropelam se e abafam as pandeiretas das famílais ciganas que cantam, tocam e sorriem, todo o dia, à espera. As lojas são do dono, não do cliente, não importa a venda. Fecham se no negócio: presépios, brinquedos ancestrais, instrumentos de música. Cedo é escuro e também cedo nos é desenvendada a riqueza e o perigo. Italianos barrigudos, os dos filmes, com o gorro amarrotado, pousado na cabeça. Sorriem, um sorriso pouco benvindo, mas pouco inimigo também. Os imigrantes dão passadas maiores quando faz noite. E as avós gordas calam os putos e botam nos para dormir. Mas da fachada de elmo, o campo de visão preguiçoso, maior e mais acima, são apenas anões.



filhA do pAi

Não foi de propósito, encontrei-o na escrivaninha. Era pequeno e tinha uma capa em couro, o que era inédito para mim, um caderninho que cheirava a antigo e a aventura; daquelas que eu lia escondida debaixo dos lençóis. E tinha uma moldura de cornucópias douradas. Desculpa..Não resisti a abrir e tinha a tua letra. A tua letra docemente desenhada. Passei horas a fio a imitá-la. Rabisquei dezenas de folhas do meu caderno sem capa de couro para conseguir criar o teu abecedário. Nao consegui. Li o teu diário e era triste. Tinhas 15 anos e eu tinha 13. As páginas eram amareladas, e eu acreditei mesmo que nunca ia ser como tu, nem ia ter tanta coisa dentro de mim como tu tinhas, nem ia chorar tanto como tu choravas. Falavas do teu pai lá, e eu nao percebia, e dizias que tinhas medo...nunca te vi com medo. Falavas de amor, platónico como tudo o que é prazeroso na tua vida. E condenaste esse amor nas páginas do diário, e eu fixei até hoje que ele não existia para ti, e que aceitaste o léxico mundano e formas quotidianas como as tartes de maça e os cariocas. Fiquei tão triste, era criança, queria que aquela estória acabasse bem, e nem me apercebi que fazia tão parte da tua história. Sabes de quem falo, aquele, que tinha a morte nos olhos.. e que morreu. Sempre quis que tivesses ficado com ele, não sei porquê. Lembro me de mais coisas que queria, lembro me duma frase: "o ódio destilado no alambique da guerra". Soava tão bem, era tão barroco e exuberante. Desejei com todas as forças do meu ser escrever assim, e escrever assim com a tua letra..ia ficar tão lindo, pareceria uma iluminura, com aquelas maiúsculas autoritárias. Quis escrever como tu antes de saber sequer o que a frase significava. Um dia decidi, lambi os dedos e avancei as folhas do dicionário, como sempre me ensinaste, para saber o que era "alambique"..desculpa não sabia, e também não conhecia destilar. Senti que devia ter lido mais, tu bem dizias. Eu compreendi a frase, não a entendi. A clareza do entendimento veio mais tarde, e foi avassalador. Qualquer forma de escrita, nunca me vai atingir do mesmo modo que esta frase, porque nunca mais encontrei nada tão poderoso e que me fizesse sofrer tanto. Senti vergonha por entender o tipo de ódio a que te referias. Foi o primeiro objectivo da minha vida, daquelas pequenas ocorrências da infância, as que ficam. Escrever como tu, conseguir extrair mais da língua do que o que ela própria oferece. Este foi o primeiro e mais puro entendimento da minha existência intelectual e emocional. Quis te descobrir mais, mas és tão distante mãe, quis ouvir a Paixão Segundo S.Mateus de Bach, e depois de ouvi-la quis aprender a ouvi-la, houve alturas, aliás, que, para te combater, ouvi incessantemente a Paixão Segundo S. João, só para me provar que não somos iguais. Mas a Paixão Segundo S. Mateus é mais bela, e mais sofrida como tu. Depois percebi a tua missão, percebi que não conseguiste viver mais depois que eu nasci, ou se calhar depois que ele morreu, ou então nunca conseguiste viver. Porque és tão magnânima e exterior a ti? O mundo não tem de depender de ti. Quando morreres as flores não vão desabrochar do mesmo modo. Ninguém disse isto, nem ao Pessoa nem ao Campos. Eu sou o teu ponto de referência, mas quero deixar de ser. Porque achas que eu te afasto mas que preciso de ti? Mãe, es tao sábia com as palavras e o léxico pregou te uma partida. Eu aproximo te, e preciso te. Mas tens de descer a mim. Nao! Tens de me deixar subir a ti. Tornares tudo plano, sem quebras ou vacilos, só para eu entrar um pouco no teu mundo e passares tu a ser o meu ponto de referência e menos a tal ocorrência de infância. És tu para todos. Desgastas-te para seres de todos, e todos têm espaço para serem mais deles. E todos os dias és menos de ti e para ti. Nao deixes mãe. Escreve o teu livro. Tu achas que não tens autoridade. Ganha essa vitória a ti mesma, permite te a entregares-te sem almofadas, tintas ou pérolas. Plantamos uma árvore juntas.

Ensinaste me a escrever, agora eu ensino te a ti.

epitáfio aka ode à vida

por Ines Andrade





"epitáfio aka ode à vida": nao encontro conceitos que se enquadrem melhor neste cenário que pintaste em correria por mim. Por mim porque sei que o sentiste, como sentirias se eu aí estivesse, a pintar os olhos debaixo da luz fraca da tua casa de banho como quando eramos crianças. O'neill verbalizou os meus medos..defendo me da morte, mas se, ou quando ela chegar, so tu terás o dom da palavra para a despedida.
Aprender é descobrir o que já sabias. E descobri em Assisi uma paz que pensei pertencer só a mim (que egoísmo eu sei) mas aprendi que a fé existe e que nao precisa de tapete de entrada. Aprendi que a minha mãe tem razao, sou uma rapariga da cidade, cuja obstinação so me defende das coisas erradas, mas encontrei em Assisi a verdade. Na cidade nao me sinto capaz de escrever um livro. Em Assisi sei que vou escrever um livro.
Nao aprendi a (des)esperar, ja quero escrever um livro sem ter plantado a àrvore e feito o filho..Desculpa, mas quando escrevo estou no meu campo de batalha, daquela que falas que travamos? Bom, domino quando escrevo, e nao estar aí, onde o ar é despretensioso, fez me perder esse controlo. E se eu nao souber escrever mais? Se nao souber desafiar mais a lingua que sempre foi minha? Até ela vai mudar, mariana, até a nossa lingua vai abandonar as minhas mãos e eu nao vou poder contar pelos dedos os pormenores, as acções e as pessoas que me pertencem.
Nao sei plantar uma árvore, preciso mesmo que me ensines, sim? O filho é mesmo a verdadeira criação, surpreende-te, ama te e mata te. Um livro não, o livro é branco, mari, e tu dás lhe ordens, guardas, riscas, rasgas, desistes, retomas. Um filho não admite prefácios e o único "marcador" que algum dia terás serão desenhos de primária.
Mas voltemos à infancia que nao tivemos...



Dorothy, bate três vezes com os calcanhares para eu voltar para casa....



O filho e o livro

(por Mariana d'Orey)
" As pessoas tratam de pôr uma pausa ou um stop nestas conversas. Incomoda-as” dizias tu numa das nossas trocas de palavras. Acesas, irreverentes e profundamente tenras. Não imaturas, mas tenras, frescas, prestes a desbotar. A Inês das mil e uma verdades e a Mariana dos mil e um segredos, o filho das mil e uma alegrias, o livro das mil e promessas.Nessa tarde fria de Novembro em que os nossos olhares se encontraram no suor das nossas conversas. Sim, porque as nossas conversas suam. Soam porque ganham vida e ritmo próprio. Bem, dizia eu que nesse fim de tarde amarelo em Portugal e vermelho em Roma (sempre gostei de ver o amarelo e o vermelho juntos) estavas especialmente amedrontada. Estavas amedrontada porque estás longe e tens medo que isso te afaste da tua mais nobre missão: escrever. Por isso, e só por isso, me lançaste ideias sem sustento (pelo menos por enquanto) de escrever um livros. Sobre quê? Não sei. E tu também não. Só sabes que incessantemente queres desenhar letras e sujar as tuas mãos de papel e carvão. Só mais tarde percebeste porque te disse que na vida temos de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro, por esta ordem. E aí o sangue subiu-nos ao coração e, de uma forma quase simultânea, desafiamo-nos para mais uma batalha de pensamentos. Batalha não porque somos mulheres de paz, diria melhor um flirt de pensamentos. Intenso, provocador e incomodativa para todos. Menos para nós. Defendi a ideia de que um livro devia vir depois de um filho. Nem sei se é verdade, mas disse – to na mesma. Porque era isso que precisavas de ouvir. Tu, do teu recanto, afirmavas que não, que um filho era a derradeira criação. Nem sabias bem se acreditavas nisso. Mas disseste – o na mesma. Porque isso justificaria as tuas novas ficções para acalmares a alma. Por fim, eternas amantes do entendimento, encontramos um caminho comum. Se era o livro ou o filho a derradeira criação não sabíamos, a que cumpria era ainda a primeira: plantar uma árvore. Colocar a semente, regá-la, cuidá-la e dar estrutura a cada uma das ramificações. Quando voltares quero que plantes a tua árvore ao lado da minha árvore. Ela ainda está pequenina, mas concerteza será capaz de abrigar a tua semente do sopro do vento e dos risos da chuva. Um dia mais tarde não duvido que a tua jovem árvore relembra a minha, nessa altura já carregada das rugas do tempo, o processo de fotossíntese e as malandragens do sol. Se na vida temos de fazer três coisas – plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro – então no nosso percurso temos também de nos cruzar com três pessoas – o Papa, o Paulo Moura e a Inês Andrade.
Ao lado do homem vou crescendo
Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente
Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam todas as vidas
Ao lado do homem vou crescendo
E defendo-me da morte povoando de novos sonhos a vida.






O'Neill
manhãs frias

Há algum tempo que nao escrevo um post. os textos cessaram porque findou também a histeria inicial de viver num novo cenário, com novos movimentos, novas pessoas, novas paisagens, encantadoramente tentadoras.Com o passar do tempo apercebi me como algumas pessoas recorrem à fuga para se encontrarem e outras perdem-se quando longe do refúgio.
Em roma, o ritmo frenético dos 6 milhões de pessoas tornam a cidade quente e abafadora, mesmo quando chove, não há espaço para os aromas lusos tão familiares: o perfume queimado das lareiras nos primeiro dias de novembro, e o orvalho telúrico das chuvas, tão típico.Antes de regressar ao meu país, tudo em itália me parecia negativo, cada caminhada, passeio, refeição ou programa merecia um olhar depreciativo da minha parte. amei platonicamente Portugal durante 2 meses.Agora que aqui estou, o amor é genuíno, porque vivo os pormenores da minha terra natal com calma.Tenho saudade de roma, talvez tenha saudade de mim em roma, como também sentia falta da inês que sou em no Porto.Se calhar em roma, descobri qual o melhor de mim no Porto, como agora que aqui estou foi me apresentado o melhor de mim em Itália.Desafiante é conjugar as duas faces desta descoberta. não quero voltar para Itália, mas também não quero sair de lá.A diana tem razão, roma tem segredos, o Porto não tem, porque no Porto as coisa boas são explícitas. em roma guardamos só para nós os detalhes da cidade que nos fazem aguentar a distância, que fecundam a nossa introspecção, o diálogo intrapessoal que não temos no Porto, porque já o damos como garantido, é demasiado nosso.
Os meus segredos são simples.
Os cafés da Amália. irónico, buscar a protecção de uma personagem tão prosaica, como uma empregada de café, que coincidentemente possui um denominador comum com Portugal, o nome.

Os floristas abertos toda a noite, nas avenidas escuras dos arredores romanos, iluminam as esquinas com girassõis, rosas e orquídeas, para presentear amantes nas madrugadas.

A linha do 87, que apelidamos carinhosamente do autocarro turístico, que me acaricia pela manhã com as melhores visões de roma

Os gelados, são quase como a realização dum desejo infantil, sabores que, secretamente, sempre esperamos que existissem, e afinal existem mesmoimprevisibilidade da cidade, quando já pensamos que vimos tudo o que de importante há para ver, presunção nossa, ela mostra nos uma paisagem nova, quase sorrateira, de tao descontextualizada, mas que arranca um sorriso de conforto

Por fim, os testes a nós mesmos, não é uma característica directa de roma, mas que desencadeia acontecimentos só possíveis lá.

desvendem os vossos segredos

lugares comuns

As saudades são um lugar-comum, dizer que a falta do ninho desampara-nos sempre que nos atiça um cheiro ou uma imagem, ou uma simples lembrança casual...A grande verdade é que um lugar-comum é aquilo de que mais puro e genuíno emana de nós, e ao verbalizá-lo (swelllliiiiiing) todos sabemos o que significa. Sinto a maior inocência das inocências possíveis, daquelas birras infantis de precisar tanto de ter algo que se chora até cansar e os olhos ficam a arder. Eu preciso de vocês...

a charneira

"escrevi este livro na felicidade louca de escrevê lo"